Viva a amizade!

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Nono dia – Viva a amizade!

Andei refletindo sobre o tema do nosso nono dia de roadtrip pelos EUA, quando começamos a viagem pelo interior do querido estado da Virginia, lugar que passei um dos anos mais incríveis da minha vida!

Foi aí que tive a ideia de dedicar esse post à Charlie Anne, a minha querida americana que visitei no nono dia de viagem. Após quase três anos sem vê-la pessoalmente, esse foi o nosso primeiro encontro em um contexto até então inimaginável. Explico.

Visitei a Charlie em um hospital de queimados enquanto ela se recuperava bravamente de um grave acidente que resultou em queimaduras de terceiro grau em quase 85% do seu corpo. Como uma verdadeira guerreira, ela sobreviveu e, superando todas as expectativas, estava prestes a concluir as etapas do seu tratamento para retornar ao seu lar e à sua família.

Eu e a Charlie nos conhecemos há onze anos quando eu estava buscando um apartamento para alugar em Charlottesville. Ao responder o meu e-mail, Charlie, que na época era gerente de um condomínio de prédios para estudantes, o Eagles Landing, me passou as informações sobre o apartamento. No final da sua mensagem, ela mencionou que era casada com um brasileiro e que seria muito legal ter eu e o Rê como moradores. Achei isso demais!

Depois de comparar as propostas de aluguel, decidimos fechar com o condomínio onde a Charlie trabalhava. É claro que a mensagem simpática também pesou na nossa decisão! Acertamos todos os detalhes do aluguel antes de embarcarmos para os EUA, sempre contando com o apoio dela. E, quando chegamos ao condomínio para pegar as chaves em pleno sábado de manhã, adivinha quem fez questão de estar lá para nos receber pessoalmente? Ela mesmo, Charlie Anne! Ali, tive certeza de que ela era uma pessoa especial e não demorou muito para nos tornarmos amigas.

Eu e Charlie no Eagles Landing em 2012

Como a Charlie era (e ainda é) casada com um brasileiro, o querido André, ela me pediu para ensiná-la um pouco de português, pois gostaria de se comunicar com mais fluidez com os seus parentes brasileiros nas suas viagens ao Brasil. Achei linda a iniciativa e me dispus a ajudá-la sem pensar duas vezes, mesmo não tendo qualquer experiência na área!

Marcamos as “aulas particulares” duas vezes por semana depois do expediente da Charlie, que, geralmente, terminava por volta das 17h. Confesso que, no início, era meio estranho, mas na terceira “aula” já parecíamos amigas de longa data! A nossa afinidade era impressionante e as aulas se tornaram um pretexto para conversarmos literalmente sobre tudo por horas a fio! Tive a sorte de encontrar uma amiga logo de cara e, ainda por cima, alguém tão tagarela como eu! Rs.

Um dos nossos primeiros programas com o André e a Charlie

Falo que a Charlie e o André foram verdadeiros anjos durante o ano que passamos em Charlottesville! Eles nos receberam de braços abertos e, com grande generosidade, nos mostraram a cidade e nos apresentaram aos seus amigos, que também nos acolheram super bem.

Eu, Charlie e sua melhor amiga, Jamie

Isso sem contar com o apoio com todos os desafios típicos de quem se muda de país, desde questões simples, como o melhor mercado para fazer compras, onde sair para comer, como preparar s’mores, um dos meus doces americanos favoritos, até como tirar carta de motorista e abrir conta no banco. A Charlie chegou a nos emprestar um dos carros dela por quase todo o período que estivemos por lá como forma de agradecer pelas minhas aulas de português!

Definitivamente a Charlie e o André tornaram a nossa experiência nos EUA ainda mais incrível!

Devorando S’mores!

Construímos um laço de amizade tão forte, que foi fácil mantê-lo mesmo depois de retornar ao Brasil. Até o acidente, eu e a Charlie falávamos com frequência e, nesses dez anos, pudemos compartilhar momentos marcantes nas nossas vidas mesmo à distância. Claro que a gente também se encontrou pessoalmente algumas vezes nos EUA e no Brasil e sempre era aquela festa!

Em outubro de 2021, quando estava saindo do clube com a minha família, recebi uma ligação da minha sogra dizendo que ela havia lido a notícia do grave acidente sofrido pela Charlie. Fiquei em choque, comecei a chorar e, logo em seguida, estava buscando uma forma de ajudar a minha amiga! A sensação de impotência aliada à distância da minha amiga era terrível! Aos poucos, fui conseguindo obter informações sobre o estado de saúde da Charlie, o que, de certa forma, serviu de alento.

Além disso, o André criou um diário no Facebook relatando o dia a dia dela no hospital e o seu progresso. Achei essa ideia de uma sensibilidade e generosidade impressionantes. Afinal, não deve ser fácil cuidar da sua esposa no hospital, dos seus dois filhos pequenos, da sua casa, vida profissional, e, ainda por cima, ter o cuidado de escrever um diário para manter as centenas de amigas e amigos da Charlie informados sobre o seu tratamento! Considero esse gesto um ato de amor incrível!

Por isso, assim que confirmamos a data da nossa viagem para Virginia para o início de maio, entrei em contato com o André para checar a possibilidade de visitar a Charlie no hospital. E ele não titubeou em incluir o meu nome na lista de visitas, dizendo que a Charlie ficaria muito feliz em me ver! Lembro de até ter chorado de emoção quando ouvi essas palavras!

E o dia da visita finalmente chegou! Acordei com aquele friozinho na barriga e, após viajarmos por algumas horas, chegamos ao hospital em Richmond por volta das 17:30, horário da visita. Ao caminhar até a entrada, um filme com os momentos marcantes da nossa amizade passou na minha cabeça. Logo em seguida, fui recebida pelo André com um abraço. Em seguida, ele me levou até o local onde a Charlie me aguardava.

Ao ver a minha amiga depois de tanto tempo, não contive a emoção! Assim que ouvi que eu poderia abraçá-la, corri até a Charlie para dar aquele abraço apertado! Nós duas choramos abraçadas por um tempo sem trocar uma palavra. Era um mix de emoções! Durante as três horas que fiquei com ela, pudemos conversar muito, dar boas risadas e chorar de vez em quando. Tudo com uma intensidade que só amigas tão próximas podem sentir!

A Charlie me contou como o acidente aconteceu, como o seu corpo ficou, a força que ela encontrou no amor pelos seus filhos para superar todas as adversidades e os desafios que surgiram (e continuam a surgir) no seu processo de recuperação. Mas ela também quis saber como eu, o Rê e os meninos estávamos, as últimas novidades da La Cloche, e até me deu dicas sobre algumas novas vinícolas perto de Chartottesville! Charlie sendo Charlie! A sua essência continua a mesma!

O dia 10 de maio de 2022 ficará para sempre gravado na minha memória e no meu coração como um dos mais marcantes da minha vida! Essa foi a data em que a amizade, a admiração e o respeito por uma amiga ganharam um novo significado! Sem saber, a Charlie continua a me fazer uma pessoa melhor! E, no fundo, acho que é isso que a verdadeira amizade representa, não é mesmo?

Para saber mais sobre a história da Charlie, acesse aqui a página que o André criou no Facebook.

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